Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Recife / PE
Superintendência das
Escolas Bíblicas Dominicais
Pastor Presidente: Aílton
José Alves
Av. Cruz Cabugá, 29 – Santo Amaro – CEP. 50040 –
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(Êx 20.17; 1 Rs
21.1-5,9,10,15,16)
INTRODUÇÃO
O décimo mandamento “Não
cobiçarás” (Êx 20.17), foi instituído por Deus para que a nação de
Israel não violasse nenhum dos mandamentos anteriores do Decálogo. Se o oitavo
mandamento, por exemplo, proibia o roubo, o décimo mandamento proibia o desejo
de roubar. Nesta lição, iremos analisar exegeticamente este preceito; teremos
uma visão geral sobre a cobiça no AT e no NT; veremos ainda alguns exemplos
bíblicos de pessoas que caíram neste terrível pecado; e, por fim, como vencer a
avareza, uma prática nociva tão comum em nossos dias.
I
– A EXEGESE DO DÉCIMO MANDAMENTO
“O verbo hebraico que aparece no
texto de (Êx 20.17) é “hãmad”, que significa “desejar, ter
prazer em, cobiçar, ter concupiscência de”; já em (Dt 5.21) podemos notar a
presença de um outro verbo hebraico “ãwãh”, que significa
“desejar ardentemente, ansiar, cobiçar, anelar” (SOARES, 2014, p. 133 –
acréscimo nosso). A Septuaginta, que é a tradução do AT em hebraico para o
grego, traduz estes dois termos, pelo verbo grego “epithyméo”. Logo, o substantivo grego que expressa um
desejo é “epithymia” (Mt
5.28; Lc 15.16; Rm 7.7).
1.1. “Epithymia”, desejos bons ou maus. “O verbo “epithyméo”
significa literalmente “desejar apaixonadamente”. O vocábulo grego é
neutro, podendo fazer referência a qualquer apetite legítimo ou ilegítimo.
Portanto, os desejos podem ser positivos ou negativos. Um desejo pode ser
apenas isso, porém, quando não se estabelece limites, este sentimento primário
evolui para a paixão. A paixão por sua vez, é um “sentimento ou uma emoção
levados a um alto grau de intensidade,
sobrepondo-se à lucidez e à razão” (FERREIRA, 2004, p. 1468); quando ela domina
o coração do homem, o sentimento primário eleva-se ao extremo e, esse extremo é
exatamente o que a Bíblia chama de cobiça. Existem desejos (cobiças) tão
intensos que envolvem a própria alma (Dt 14.26)” (CHAMPLIN, 2004, vol. 2, pp. 79-80 – acréscimo nosso).
II – A COBIÇA NA
PERSPECTIVA DO ANTIGO TESTAMENTO
“A cobiça é definida como o desejo desordenado de
adquirir coisas, posição social, fama, proeminência secular ou religiosa, etc.
Pode incluir a tentativa de apossar-se do que pertence ao próximo. Ela
geralmente aumenta com a idade, ao invés de diminuir, dando origem a certos
números de males. Esta obra da carne promove a alienação de Deus, a opressão e
a crueldade contra o próximo, a traição e as manipulações e desonestidades de
toda espécie. Quase sempre, o desejo desordenado da cobiça provoca alguma ação
para que o cobiçoso adquira o que quer, ou para que persiga o possuidor do
objeto ou da pessoa cobiçada” (CHAMPLIN, 2004, vol. 1, p. 774 – acréscimo
nosso).
2.1. Significado do décimo
mandamento. “Não cobiçarás”, não significa que uma pessoa não
possa ADMIRAR bens e aptidões de outros indivíduos. O mandamento proíbe o
desejo corrompido que destrói os relacionamentos e pode levar um indivíduo a
desejar o sofrimento daquele que têm a aptidão ou objeto cobiçado” (ADEYEMO,
2010, p. 114 – grifo nosso).
2.2. Objetivo do décimo
mandamento. “A posição desse mandamento no final da lista indica
que ele trata de qualquer pendência que ainda resta no âmbito relacional, pois
abrange todas as formas possíveis de relacionamento – com Deus, com a família e
com a sociedade mais ampla. A confiabilidade e o respeito por outros são
elementos essenciais, pois nenhuma sociedade construída com base em
relacionamentos falsos pode sobreviver à instabilidade e aos problemas
resultantes. Se pessoas e nações tivessem obedecido aos Dez Mandamentos, muitos
traumas poderiam ter sido evitados” (ADEYEMO 2010, p. 114).
2.3. O que não cobiçar.
“O mandamento proíbe cobiçar a casa, a mulher, os servos, os animais ou
qualquer coisa do próximo (Êx 20.17; Dt 5.21). A casa aqui
indicava a família, no sentido antigo da palavra, e a
ideia de esposa é primária. Isto é
explicitamente demonstrado em Deuteronômio 5.21, onde a esposa é mencionada em
primeiro lugar. Boi e jumento
são a riqueza típica do camponês ou
seminômade da Idade do Bronze, para quem as perplexidades da sociedade
desenvolvida ainda não haviam surgido. Os servos ou os “escravos” eram por sua
vez, a única outra forma de propriedade móvel” (COLE, 1981, p. 155).
2.4. A abrangência do cobiçar. A
ideia central é não desejar aquilo que pertence ao próximo, contudo, como Deus
não só vê a ação concreta, mas a motivação que leva a ação, podemos identificar
nesta verdade, o lado espiritual do Decálogo, mostrando que nem tudo é
jurídico, e com isto, entendemos que o décimo mandamento é a ponte que leva ao
cumprimento dos demais, isto é, não cobiçar outros deuses, outras formas de
culto, a mulher e os bens do próximo (Êx 20.17).
III
– ENTENDENDO A COBIÇA NA PRÁTICA
Todos nós externamos vontades e biblicamente há
implicações. Existem vontades ou desejos lícitos e ilícitos e, o décimo
mandamento previne o coração exatamente dos desejos ilícitos, isto é, da
cobiça.
DESEJOS LÍCITOS
|
REFERÊNCIAS
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DESEJOS ILÍCITOS
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REFERÊNCIAS
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Jesus desejou comer a Páscoa
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“... Desejei muito...”
(Lc 22.15).
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Ananias e Safira desejaram prestígio
|
“Porque
formaste este designo...” (At
4.34-37; 5).
|
Daniel desejou conhecer os desígnios
de Deus
|
“Então tive desejo de conhecer a
verdade...”
(Lc 15.16).
|
Diótrefes desejou a primazia da
igreja
|
“Procura
ter entre eles o primado...” (3 Jo 9).
|
IV – A COBIÇA NA
PERSPECTIVA DO NOVO TESTAMENTO
4.1.
Na perspectiva de Cristo. “Não
cobiçarás...” se distingue dos outros nove mandamentos por se tratar da
motivação, e não do ato. Assim, é possível violar esse preceito sem que haja
comprovação concreta. É o décimo mandamento que golpeia a própria raiz do
pecado, o coração pecaminoso e o desejo perverso. Cristo aborda a
responsabilidade sobre o pecado do pensamento, pois toda ação humana começa no
seu coração, inclusive comparou o desejo de pecar (a cobiça) ao próprio ato em
si” (Mt 5.28; Mc 7.21-23;) (SOARES, 2014, p. 134 – acréscimo nosso).
4.2. Na perspectiva do apóstolo Paulo. O apóstolo Paulo trata esta obra carnal se utilizando
de um sinônimo. Ele destaca a avareza, o apego demasiado e sórdido ao dinheiro,
ou seja, a vontade de adquirir riquezas; os cobiçosos anelam por ter mais
dinheiro (At 20.33; 1 Tm 6.9; Rm 7.7). Este pecado é alistado entre os pecados
frisados por Paulo, em Ef 4.19; aparece na lista dos vícios dos povos pagãos,
em Rm 1.29. Apesar da cobiça não ser especificamente alistada entre as obras da
carne em Gl 5.19-21, ela é uma das causas de várias daquelas obras carnais,
como o adultério, o ódio, as dissensões, a beligerância que é a pessoa que
suscita guerras, etc., devendo ser incluída entre as “tais coisas” que Paulo
mencionou, e que não permitem que uma pessoa chegue ao Reino de Deus (Gl
5.21).” (CHAMPLIN, 2004, vol. 1, p. 774 –
acréscimo nosso).
V – PERSONAGENS BÍBLICOS
QUE CAÍRAM NESTE PECADO
Na tabela abaixo, destacamos alguns exemplos
práticos de personagens que caíram neste pecado.
PERSONAGENS
|
REFERÊNCIAS
|
DESCRIÇÃO DA COBIÇA
|
Lúcifer
|
“... E serei semelhante ao
Altíssimo...” (Is 14.12-15).
|
Cobiçou ser igual a Deus
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Adão e Eva
|
“... Desejável para dar
entendimento...” (Gn 3.6).
|
Cobiçou saber como Deus
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Acã
|
“... Cobicei-os e tomei-os...” (Js
7.21).
|
Cobiçou os despojos de Jericó
|
Davi
|
“… mandou trazer...” (2 Sm 11.2-4 ).
|
Cobiçou a mulher de Urias
|
Absalão
|
“... Furtava Absalão o coração...”
(2 Sm 15.1-16).
|
Cobiçou o trono de Davi seu pai
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Geazi
|
“Tomar dele alguma coisa” (2 Rs 5.20).
|
Cobiçou os pertences de Naamã
|
Acabe
|
“... Dá-me a tua vinha...” (1 Rs 21.2).
|
Cobiçou a propriedade de Nabote
|
VI
– VENCENDO A AVAREZA
Nas Escrituras encontramos o
antídoto para este veneno mortal. Vejamos: (1) Jesus nos ensina que não
precisamos andar ansiosos com as coisas desta vida, Ele supre toda as nossas
necessidades (Mt 6.25,26); (2) o apóstolo Paulo por sua vez, nos ensina
que devemos aprender a nos contentarmos com o que temos, desejar apaixonadamente
a riqueza é uma laço que nos leva a perdição e a ruína (Fp 4.11,12; 1 Tm 6.9);
e por fim (3) o escritor anônimo da carta aos Hebreus nos consola com as
palavra de Cristo: “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb
13.5).
CONCLUSÃO
A cobiça é uma obra da carne que dá origem a
todos os outros pecados. Por meio deste pecado o mal se introduziu na criação.
O mandamento “não cobiçarás” nos protege das ambições erradas, levando-nos a um
nível de relacionamento piedoso para com Deus, com a nossa família e com a
sociedade.
REFERÊNCIAS
·
TOKUNBOH,
Adeyemo. Comentário Bíblico Africano. MUNDO CRISTÃO.
·
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
·
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de
Bíblias, Teologia e Filosofia, HAGNOS.
·
COLE,
R. Alan. Êxodo Introdução e Comentário. MUNDO CRISTÃO.
·
SOARES, Esequias. Os Dez Mandamentos. CPAD.
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